domingo

A Saloia da minha aldeia


Em tempos da minha infância, devia ter uns oito ou nove anitos, fui chamada, por uma conterrânea a residir em Lisboa, de saloia. Para quem não sabe o verdadeiro significado da palavra saloio, eis aqui o que diz o dicionário: aldeão, camponês, campónio, parolo e rústico.
     Naquela altura fiquei incomodada ao ser chamada de tal nome, visto que, o tom de voz com que foi pronunciado o substantivo foi de escárnio.
     Actualmente (já sou adulta) tenho muito orgulho em ser saloia, vejamos as diferenças, na tabela que se segue, entre pessoa saloia e pessoa não saloia:


Pessoa Saloia
Pessoa Não Saloia





Relações Interpessoais
Conhece e faz uso das palavras “bom dia, boa tarde, boa noite.”
Na execução das tarefas agrícolas há inter-ajuda.
Quando acontece uma fatalidade a casa é repleta de vizinhos e dos cidadãos da aldeia. A relação entre eles é um por todos e todos por um…
Mora num apartamento, a sua porta de entrada está a cinco metros da do vizinho e nem assim se conhecem nem trocam palavras. Naquele edifício o sentimento que paira no ar é cada um por si…












Relação com a natureza/animais
Distingue um feijoeiro dum batateiro; uma cerejeira de um castanheiro.
Sabe como se cultiva o feijão, as batatas, as alfaces e cuida com zelo para que reproduzam em abundância.
Tem uma relação afável com os animais domésticos.
Ouve o grilo a cantarolar e sabe que é um grilinho!
Não entra em stress porque a natureza é tão bela que é nela que busca a força para mais um dia de trabalho. O despertador matinal é  o chilrear dos pássaros num som harmonioso que, subtilmente, entra nos ouvidos.
Discrimina as várias estações do ano através das cores radiantes que a natureza oferece em cada uma delas.
Todo o tipo de plantação que envolve o sítio onde mora é considerada zona verde sem saber discernir um pinheiro de um castanheiro, um pinheiro de um carvalho.
Para ter contacto físico com um animal doméstico tem que se dirigir ao jardim zoológico.
Ingere a batata, o feijão e outros alimentos que advêm do solo sem saber como se processa a sua germinação.
Raramente ouve grilinhos  a cantar.
Não precisa de despertador matinal porque já tem o ruído e as buzinadelas do trânsito a passar logo por baixo da janela do quarto.
Está rodeado de natureza morta, pelo que, não tem onde buscar forças para aliviar e renovar o espírito.
Vive em constante stress.





Relação com os alimentos
Confecciona o pão e tempera adequadamente o forno para receber o alimento sagrado.
Faz um caldo verde com couves-galegas acabadinhas de apanhar no quintal, 100% biológicas.
Adora o pão que o saloio faz mas interroga-se como se faz tal delícia.
Para comer um caldo verde, compra a couve no super-mercado embalada à uns poucos de dias… Este caldo de biológico não tem nada…

Relação com as novas  tecnologias
Ao entardecer, senta-se no jardim, liga o portátil vê os e-mails e consulta as páginas dos jornais para ver o que se passa no mundo.
À noite, muito stressado, liga o portátil vê um ou dois e-mails e desliga rapidamente porque teve um dia muito cheio de poluição, trânsito e ruído...

Para finalizar este tema, sou saloia cem por cento assumida e já não levo a mal quando me chamam tal palavra…
Afinal de contas, nós os saloios é que temos qualidade de vida! Tudo o que é saloio é bom.
Pretendo, com isto, não ferir sensibilidades das pessoas não saloias.

Sónia Ferreira

7 comentários:

Anónimo disse...

bem,belo comentário é uma boa maneira de se distinguir uma pessoa que é do campo e outra que e da cidade.Parabéns pelo comentario

Anónimo disse...

Aqui está bem escrito e demonstrado o que ter qualidade de vida a 100%, sou saloia com muito gosto.
As pessoas se conhecem na totalidade e se ajudam nos momentos mais delicados.
Vivo aqui desde que nasci, e posso dizer que vivo num cantinho do ceú, pois aqui por enquanto temos paz, silencio,trancuilidade,ar puro...
Sónia amiga parabéns!!!
Feliz Ano Novo aos saloios e não saloios.

Edite

Anónimo disse...

Parabéns Srª Sónia, bela definição transcrita, como saloio que sou, uma vez que nasci perto da sua terra, mais precisamente em Lamas, embora esteja a viver no Brasil à muitos anos, os meus parabéns,foi uma demonstração perfeita, adorei.. adorei... continue a escrever, precisamos deste oxigénio
M.João

Unknown disse...

Oi
Sónia,
Muito inteligente suas observações. Ser saloia é sinonimo de Sustentabilidade, que é o que há de mais moderno no mundo globalizado, pois a continuação da natureza depende disso e voces já estão premiados. Quem não é saloia, concerteza, gostaria de poder usufruir desse lado. Vera Rio de Janeiro Brasil

Anónimo disse...

eu vivo longe mas todos os anos volto a minha pequena aldeia: duas igrejas!!!!!!!!!!!!!continua sonia beijinhos amiga ana

Rogério Maciel disse...

Querida(sem abuso e pêlo que escrevêu sôbre a Salôia) Sónia! Bem Haja ! Oxalá houvessem muitas Mulheres no Portugal actual como a Sónia !Se não fôsse já comprometida Casava-me :) consigo .Não para têr uma "criada" em casa , mas por sêr uma Mulher ,Forte , Inteligente , Simples , Verdadeira .
Bem Haja mais uma vez !
Rogério , o Lavradôr Montanhês do Alto Minho

Rogério Maciel disse...

Cara Sónia queria ainda rectificar o Verdadeiro significado de SALOIA(O). O que mencionou é uma deturpação de gente "fina" e citadina , gente rasteira , arrogante e maldosa que há muitos e muitos anos antes da Sónia assim classificavam algumas das(os)Portuguêsas(es)mais Simples, Mulheres(Homens) Sábias(os) de Portugal .
« Hoje, Dia de Portugal, que é dizer do início da Portugalidade no Mundo como País soberano cerca de 500 anos à dianteira dos demais europeus estruturados em feudos cujos duques e condes isentavam-se dum poder central, é pois neste velhinho rectângulo Pátrio que irrompe a Diáspora da Fé, do Saber e das Armas assinaladas inicialmente a todas as parte da Europa, e depois do Mundo!... Ser Português é uma maneira de estar, de sentir, pensar e ser... sempre duvidoso das suas capacidades reais de realizar e, anacronicamente, sempre ansioso de realizar.

Num aspecto particular regista-se isso mesmo no Saloio, etnia arábica vinda de Saleh, nas fronteiras do Egipto, no finais do século VIII para estas bandas ocidentais da Europa e miscenizando-se aos cristãos submetidos ao jugo Árabe ocupante, pelo que em breve eles mesmo se tornariam moçárabes, desde logo mal vistos pelos de puro sangue Árabe, não corrompido pela mistura ao de outras etnias que consideravam inferiores, pelo que foram remetidos ao desprezo das fainas mais humildes, contudo imprescindíveis, do cultivo dos campos arredores das grandes urbes estremenhas, particularmente de Lisboa. De maneira que ao natural de Saleh deverá depois a sua origem o "homem do campo", o Saloio. ...» Veja aqui :
http://lusophia.portugalis.com/forum/forum_posts.asp?TID=17&PN=3 e aqui :
http://www.google.pt/search?client=firefox-a&rls=org.mozilla%3Apt-PT%3Aofficial&channel=s&hl=pt-PT&source=hp&biw=1680&bih=813&q=O+Saloio+de+Victor+Manuel+Adri%C3%A3o+&btnG=Pesquisa+do+Google , quão fantástica e Rica é a História das Gentes de Portugal .
Um Abraço da Lusitânia!
Rogério , o Lavradôr e MOntanhês do Alto Minho