quinta-feira

A desertificação no interior

Hoje em dia, fala-se muito da desertificação do interior do país, sobretudo nas aldeias. Mas, se compararmos com épocas passadas, podemos verificar que a população residente nas Duas Igrejas tem vindo a aumentar significativamente.
Eu moro nesta aldeia desde que nasci, há 45 anos. Recuando no tempo, quando eu era criança moravam cá muitas pessoas, crianças, adolescentes, gente de meia-idade e ainda os mais velhos.
A maior parte das famílias viviam da agricultura e alimentavam-se, basicamente, daquilo que produziam e, não me lembro de ouvir dizer que alguém passasse fome durante a minha geração.
    Todas as famílias tinham uma casa para viver, não pagavam renda e podiam dizer “ a casa é minha”.
    Construir uma casa para viver era o primeiro objectivo de qualquer casal, em segundo lugar vinha o carro, etc.
    Para se conseguir esses objectivos era preciso trabalhar muito e não nos podíamos dar ao luxo de fazer certas extravagâncias como por exemplo, ir de férias, almoçar ou jantar fora, comprar roupa, etc. E também não havia tanta tentação como agora, ou seja, tantos centros comercias…
    Já nessa época havia bastante emigração, principalmente para a França. Os homens que cá viviam, para além de trabalharem na agricultura, alguns deles também se dedicavam aos trabalhos na construção civil. Lembro-me que entre 1983 e 1985 também foram anos de crise nesse sector, tal como agora, e também não havia trabalho.
    Nessa altura, a maioria dos jovens, mais ou menos com a minha idade (19 – 20 anos), não ficou na aldeia. Fiquei apenas eu e mais duas ou três pessoas. E os que emigraram foram para a França, Suíça e grande parte para Lisboa. Todos eles se mantêm por lá e poucos foram os que regressaram (só nas férias).
    Nos anos 90, a escola da Vila da Ribeira que, naquela época era frequentada pelos alunos de lá e das Duas Igrejas, tinha poucos alunos, e em certa altura eram 9 no total.
    Parecia que existia muita gente na terra, porque as pessoas circulavam mais pelas ruas devido aos trabalhos no campo, e, as crianças não paravam tanto em casa porque não havia computadores, os jogos, a internet, etc.
    O que eu noto é que, actualmente, nas Duas Igrejas, existem muitos casais novos, (mais ou menos na casa dos 30 anos) todos eles com filhos e não há assim tão poucas crianças, adolescentes, jovens e adultos, comparando com outras aldeias vizinhas.
    É de notar que, realmente, não se vê aquela agitação nas ruas porque os habitantes já não se dedicam tanto à agricultura, pois estão nos seus empregos e deslocam-se para os mesmos de carro. Os mais novos também optaram por construir as suas casas em espaços mais amplos, deixando o interior da aldeia onde o espaço era reduzido, as ruas estreitas e as casas coladas umas sobre as outras. Quem é que não gosta de ter uma mini quinta, casa com jardim e quintal?! Por isso, as ruas parecem desertas, parece que mora cá pouca gente, mas na realidade nós estamos cá, vivemos cá, e eu tenho orgulho disso. Admiro principalmente os casais mais jovens, que tal como eu também optaram por viver na terra que os viu nascer. Mas, as aldeias já não são o que eram, e as Duas Igrejas não fogem à regra…
    Esta é a minha opinião com base nos meus 45 anos de vida sempre a morar cá.
    Em relação ao futuro, o tempo o dirá! Prepara-se outra geração e com a crise que se instalou, que teima em não sair, temo pelo futuro, a falta de emprego poderá levar esta geração a sair daqui à procura de trabalho, e então voltaremos á desertificação que eu notei á 25 anos.
    Mas, vamos pensar positivo e aguardar por dias melhores. De momento penso que estamos bem, vive-se muito bem nas Duas Igrejas…!

Noémia Rodrigues

1 comentário:

Anónimo disse...

e verdàde VASCO,eu tanbem jà notei que hà màis crianças agora que à alguns anos atràs,mas se o governo continuàr a ignoràr o interior do pais,muitas aldeias ficarao desertas e uma boa pàrte da nossa cultura vai desaparecer!Tudo isto porque desde à dècadas que "infelizmente" temos politicos irresponsaveis que mètem os seus interesses em primeiro lugàr e a seguir o pais (e MAL).