Olhos de solidão

A idade avançada tornar-se uma preocupação constante, deveríamos olhar “com olhos de ver”, com vista à resolução dos problemas que a mesma acarreta. Nem sempre é fácil ao idoso deixar a casa e recolher-se num lar, para uns, os dias são um verdadeiro pesadelo, enquanto outros se vão adaptando a essa nova vida. Somos uma freguesia envelhecida, o que deveria causar preocupação à Autarquia e à Paroquia, estar atenta a essa realidade, ajudando a minorar as dificuldades por que passam em grande parte, os idosos da nossa terra.
Todos sabemos que, infelizmente, ser idoso, na nossa sociedade, significa, por vezes algum esquecimento e conviver com a mágoa da vida, alguns abandonados pelos familiares e que não têm ninguém a quem recorrer nem outro lugar para viver. “Só te peço para que cuides de mim quando envelhecer! Não me deixes ao abandono!…” – são palavras fortes e duras, suplicando aos filhos para cuidarem deles.
Por vezes, leva ao suicídio na velhice, é uma realidade a ter em conta, resultado muitas das vezes da solidão, do receio de não ser capaz de enfrentar outro tipo de vida.
Acredito que há filhos que desejam a morte dos pais, porque se tornam um encargo e um fardo para a sua própria vida.
Na nossa freguesia, não existe um Lar da Terceira Idade, uma Casa de Repouso nem um Centro de Dia, bem como, espaços disponíveis para receber a gente idosa.
Paira no ar o inquestionável, em que condições vivem os idosos da nossa freguesia? – O lar do Avelal, é uma ou quase a única instituição que os acolhe, após uma interminável lista de espera.
O Lar de Idosos é uma estrutura eminentemente social, onde por vezes há casos difíceis, já que algumas pessoas entram para a instituição e é como se nos fossem entregues, cortando-se um pouco a ligação de afecto com a própria família. No fundo a família sabe que ali estão a ser bem tratadas, nessa situação, por vezes o ambiente no lar pode ser um ambiente onde se misturam duas realidades: a das pessoas que estão acamadas, com a daquelas que estão bem.
Portanto, a panorâmica dos idosos na nossa freguesia, em termos futuros, seria tentar investimentos, tanto da sociedade civil, como da parte das instituições de caridade e segurança social, penso que a igreja aí teria um papel fundamental, em termos de tratamento e pressão para a sua criação, o que até agora não tem acontecido. 
Há casos sociais de pessoas que não têm praticamente nada, não têm nenhumas condições de sobrevivência, contam simplesmente com a caridade dos vizinhos, ou dos centros de acção social, vindos de outras freguesias, exemplos: Caritas Mioma, Centro Paroquial de Águas-Boas e agora também, já da nossa freguesia o apoio domiciliário de Lamas «A.R.C.A.S.» que aqui se deslocam e trazem uma refeição quente, a troco de nada, isto tem vindo a atenuar todos os aspectos de solidão e um certo abandono em que algumas pessoas se encontram, mas ninguém consegue superar a falta da sua própria família.
É muito importante cada vez mais as pessoas prepararem-se para a velhice. È fundamental. Penso que a minha geração deve começar a pensar nisso urgentemente, porque é errado pensar que os nossos filhos nos vão resolver o problema. Este é um conceito muito radical, tendo em conta a forma como fomos educados a ver esta situação. Os nossos pais nunca pensaram assim, pelo que hoje, infelizmente, ainda existem pessoas que estão muito enganadas, porque nós somos os velhos de amanhã. Não podemos esperar que o Estado faça alguma coisa por nós, porque não vai fazer.
Como pessoa atenta, assusta-me o facto de Ferreira de Aves ser uma Freguesia envelhecida, não é só a nossa freguesia, mas todo o nosso país vive esse drama do envelhecimento, enfrentaremos problemas mais graves nos próximos anos se nada fizermos.
Deveremos ter uma velhice digna.
Vasco Rodrigues