quinta-feira

Xeque - mate

Portugal está ingovernável. Mergulhado numa crise governamental da qual ninguém adivinha como e quando sairá. O ambiente político é asfixiante.

A saída mais provável parece ser a dissolução do Parlamento e convocação de eleições antecipadas. É o que mais agrada seguramente ao PSD que sair das directas de Março. E o que mais apraz ao próprio presidente Cavaco Silva. Uma vitória do PSD em eleições antecipadas traria uma nova esperança ao país, além de que poderia ser uma excelente boleia para a reeleição presidencial de Cavaco. Este cenário tem, no entanto, um risco para Cavaco Silva. Se o resultado das legislativas renovar a confiança em Sócrates e no Partido Socialista, tudo ficaria na mesma e o presidente seria responsabilizado pelo prolongamento artificial da crise e correspondentes prejuízos.
É claro que, antevendo esta possibilidade, e com medo de perder o poder, o PS pode antecipar-se e pedir a substituição do primeiro-ministro, propondo uma solução mais credível. Desta forma, liberta-se de Sócrates e prolonga o poder da tribo socialista. Pelo menos por mais uns tempos, o PS pode continuar a empregar "boys", a beneficiar como até aqui os grandes interesses económicos e a promover os seus empreendimentos megalómanos. Claramente, é este o cenário que mais convém ao bloco central de interesses, aos soaristas e aos históricos socialistas. Eliminam finalmente o guterrismo de que Sócrates é herdeiro directo.
Mas José Sócrates não dorme e o seu círculo mais íntimo não esmorece. E pode ele próprio fazer ainda uma jogada de antecipação, consolidando e reforçando até o seu poder. É aliás esta a sua derradeira hipótese. Sócrates terá de negar o seu envolvimento político em todas as manobras que alguns maquinam em seu nome. Terá de desmentir a sua vontade de domesticar os media, afirmar a defesa do ideal republicano e da liberdade de Imprensa. É ainda imperioso que condene o comportamento de alguns dos administradores que o governo nomeou para empresas com participações estratégicas do Estado. Deverá afirmar que não pactua com nomeações de "boys" partidários, desqualificados e sem currículo, para cargos de alta responsabilidade de gestão, repudiando o uso de recursos públicos para benefício pessoal ou partidário. Deverá exigir a sua substituição por quadros habilitados e que, de facto, representem o interesse estratégico que o povo português tem nessas empresas.
É esta a última cartada de que Sócrates dispõe. Se não a jogar, fica refém dum Partido Socialista que já não controla. O PS, por sua vez, tem de agir e libertar-se de Sócrates ou fica cativo da vontade do presidente.
No rescaldo das eleições do PSD, teremos pois um xadrez complexo. Cavaco não sabe arriscar, o PS vacila e Sócrates não tem honestidade intelectual que chegue para se demarcar dos "boys" que o servem ou - quem sabe? - o traíram. Quem fizer a primeira jogada, ganha ou morre.

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