Provavelmente, também se passou com varias outras pessoas das Duas Igrejas, que viveram a mesma situação ou talvez pior, nos tempos dos nossos pais.
Em Março 1983, estava a aproximar a minha segunda viagem para a Suíça, o bilhete de comboio já estava comprado, a viagem ia-se fazer em duas etapas, a primeira até Paris, já que ia para passar uma semana junto de familiares, seguindo depois para a Suíça.
Como o dia da partida se estava a aproximar, dia 17 de Março, lá partiríamos para uma viagem inesquecível, a mala um grande saco e o farnel da merenda, estão prontos, como combinado, devia passar alguns dias em Paris, com alguma gente das Duas Igrejas, uma vez que iria por lá, alguns familiares deles, pediram-me para levar algumas lembranças cá da terra, como a viagem de comboio era sem mudanças claro que aceitei.
Quinta-feira, 17 de Março pelas 21.30, como combinado, encontrámo-nos na estação de Mangualde, com um colega de Vila Boa e um casal de Lamas, para apanhar o comboio .
O bilhete que compramos, era em compartimentos com seis camas individuais, um luxo, digo de luxo, porque as vezes íamos no comboio, com os compartimentos normais cheios, só havia lugar no corredor, sentados em cima das malas durante muitas horas.
Depois do revisor nos indicar o nosso compartimento, metemos as malas por baixo dos bancos e instalamo-nos, depois de um pouco de conversa, mais tarde cada um preparou a sua cama, depois de deitados e a luz apagada, cada um nos seus pensamentos, pais, irmãos, amigos e os mais queridos que ficaram na terra. Partimos para mais uma época de trabalho na Suíça, mesmo com o barulho do comboio adormecemos.
Pela manhã, fomos acordados pela campainha do responsável do restaurante, perguntava «quem queria tomar o pequeno almoço», o comboio tem um vagão restaurante, (dizia ele) todos partidos, levantamo-nos, ainda com os olhos papudos, procurávamos a casa de banho, precisávamos de estar na fila e esperar para lavar a cara e os dentes .
Hoje não me recordo, da hora que chegamos à fronteira de França, à cidade de Hendaye mas, devia ser entre as nove e dez da manhã, o bilhete que tínhamos era directo até Paris, sem nenhuma mudança, mas, aqui iam começar os problemas.
Ao subir para o comboio em Mangualde, o revisor pediu-nos o bilhete e o passaporte, porque era ele, que ia à fronteira mostrar o passaporte, normalmente a policia da fronteira só passa nos vagões sem cama em Vilar Formoso passou-se tudo bem mas em Hendaye a coisa complicou-se o comboio fazia uma paragem bastante demorada sei que tinham que fazer modificações nas rodas porque como toda a gente sabe a largura entre as linhas na Espanha e na França não são iguais, o revisor chegou à carruagem, entregou os passaportes mas faltavam alguns não me lembro quantos eram ao certo mas penso que seriam talvez dez ou doze disse-nos quem não tiver passaporte leva a bagagem e vai là dentro à policia francesa da fronteira que eles estão lá à vossa aquelas palavras caíram como uma bomba mas não havia outra solução.
Com as bagagens, a policia estava à nossa espera, mandaram por as malas num canto e subir para o primeiro andar (as escadas eram em caracol e em ferro), fomos para uma sala de espera, para nos interrogar, um de cada vez numa sala ao lado, chegou a minha vez, a primeira pergunta era se falava francês, mas, como ainda hoje não sou nenhum especialista, disse que não de caminho, um dos policias me fez a segunda pergunta, em português, quanto dinheiro tinha, disse-lhe a terceira pergunta veio logo a seguir, para onde ia, disse-lhe, para a Suíça, perguntou se tinha contrato eu respondi que não, ele disse-me que eu não podia passar, porque a Suíça tinha pedido para não deixarem passar ninguém sem contrato, queria isto dizer que tinha que voltar para Portugal.
Quando terminou o interrogatório, ficamos a saber que ninguém podia continuar todos tinham que voltar para trás, porque os que iam para a Suíça, não tinham contrato e os que iam para França não tinham papeis.
Como o dia da partida se estava a aproximar, dia 17 de Março, lá partiríamos para uma viagem inesquecível, a mala um grande saco e o farnel da merenda, estão prontos, como combinado, devia passar alguns dias em Paris, com alguma gente das Duas Igrejas, uma vez que iria por lá, alguns familiares deles, pediram-me para levar algumas lembranças cá da terra, como a viagem de comboio era sem mudanças claro que aceitei.
Quinta-feira, 17 de Março pelas 21.30, como combinado, encontrámo-nos na estação de Mangualde, com um colega de Vila Boa e um casal de Lamas, para apanhar o comboio .
O bilhete que compramos, era em compartimentos com seis camas individuais, um luxo, digo de luxo, porque as vezes íamos no comboio, com os compartimentos normais cheios, só havia lugar no corredor, sentados em cima das malas durante muitas horas.
Depois do revisor nos indicar o nosso compartimento, metemos as malas por baixo dos bancos e instalamo-nos, depois de um pouco de conversa, mais tarde cada um preparou a sua cama, depois de deitados e a luz apagada, cada um nos seus pensamentos, pais, irmãos, amigos e os mais queridos que ficaram na terra. Partimos para mais uma época de trabalho na Suíça, mesmo com o barulho do comboio adormecemos.
Pela manhã, fomos acordados pela campainha do responsável do restaurante, perguntava «quem queria tomar o pequeno almoço», o comboio tem um vagão restaurante, (dizia ele) todos partidos, levantamo-nos, ainda com os olhos papudos, procurávamos a casa de banho, precisávamos de estar na fila e esperar para lavar a cara e os dentes .
Hoje não me recordo, da hora que chegamos à fronteira de França, à cidade de Hendaye mas, devia ser entre as nove e dez da manhã, o bilhete que tínhamos era directo até Paris, sem nenhuma mudança, mas, aqui iam começar os problemas.
Ao subir para o comboio em Mangualde, o revisor pediu-nos o bilhete e o passaporte, porque era ele, que ia à fronteira mostrar o passaporte, normalmente a policia da fronteira só passa nos vagões sem cama em Vilar Formoso passou-se tudo bem mas em Hendaye a coisa complicou-se o comboio fazia uma paragem bastante demorada sei que tinham que fazer modificações nas rodas porque como toda a gente sabe a largura entre as linhas na Espanha e na França não são iguais, o revisor chegou à carruagem, entregou os passaportes mas faltavam alguns não me lembro quantos eram ao certo mas penso que seriam talvez dez ou doze disse-nos quem não tiver passaporte leva a bagagem e vai là dentro à policia francesa da fronteira que eles estão lá à vossa aquelas palavras caíram como uma bomba mas não havia outra solução.
Com as bagagens, a policia estava à nossa espera, mandaram por as malas num canto e subir para o primeiro andar (as escadas eram em caracol e em ferro), fomos para uma sala de espera, para nos interrogar, um de cada vez numa sala ao lado, chegou a minha vez, a primeira pergunta era se falava francês, mas, como ainda hoje não sou nenhum especialista, disse que não de caminho, um dos policias me fez a segunda pergunta, em português, quanto dinheiro tinha, disse-lhe a terceira pergunta veio logo a seguir, para onde ia, disse-lhe, para a Suíça, perguntou se tinha contrato eu respondi que não, ele disse-me que eu não podia passar, porque a Suíça tinha pedido para não deixarem passar ninguém sem contrato, queria isto dizer que tinha que voltar para Portugal.
Quando terminou o interrogatório, ficamos a saber que ninguém podia continuar todos tinham que voltar para trás, porque os que iam para a Suíça, não tinham contrato e os que iam para França não tinham papeis.
Pegamos nas nossas malas, rodeados de polícias, parecia que tínhamos acabado de assaltar um banco, ou então matado alguém, fizeram-nos entrar no primeiro comboio que voltava para Irun em Espanha, quando o comboio começou a andar deram-nos passaportes, o comboio em menos de cinco minutos estava em Irun onde descemos todos. Nós os quatro que tínhamos subido em Mangualde, fomos à estação perguntar se tínhamos que tirar novo bilhete para voltar para Portugal, a resposta foi rápida e directa sim, nesse momento, começamos a pensar no que fazer e tirar um novo bilhete e voltar para trás.
Estávamos em plena discussão, quando um senhor de nacionalidade espanhola, se aproximou de nós a perguntar-nos se queríamos passar para França, ficamos todos surpreendidos, disse-mos que sim, perguntamos quanto é que custava, uma soma por cada pessoa bastante elevada, que nos deixou bastante surpreendidos, terminou a dizer que o preço era fixo e pago de avanço.
Depois de passada a surpresa, era preciso pensar, porque a resposta tinha de ser dada o mais rápido possível, tentamos negociar para dar o dinheiro, só no fim, porque assim sabíamos que não nos abandonavam num canto qualquer, depois de terem o dinheiro, porque era esse o nosso medo, mas, nada a fazer era ele fazia as regras e o dinheiro era dado ao entrar no carro.
Discutimos entre nós os quatro mas não chegamos a um acordo eu queria continuar mas eles não faziam confiança chegamos à conclusão que estes meus colegas com quem tinha subido no comboio em Mangualde voltavam para trás, eu continuava, a partir daqui encontrava-me sozinho era sexta-feira penso que seria o meio da tarde.
Na vida tem que se fazer confiança mesmo nos desconhecidos eu aqui penso hoje com um pouco de calma que o risco foi enorme mas quando a gente é novo com o sangue na guelra como diz o ditado não tem medo de nada eu pensei vamos passar a fronteira de carro apanho o comboio e amanhã estou em Paris junto da minha família a historia foi mais complicada mas com a ajuda de Deus tudo se passou bem mas voltamos a esta sexta-feira dia 18 de Março de 1983.
Despedi-me dos meus colegas eles foram tirar o bilhete para voltar, eu disse ao senhor que continuava ele disse-me que tinha meia hora para ir a estação despachar a mala e o saco para Paris mas não pode despachar nada porque a mala tinha que ser fechada à chave, como eu não tinha chave nada a fazer o saco precisava de um aloquete como não tinha voltei com as duas coisas ele disse-me que as mete-se no cofre do carro dele ao mesmo tempo conheci os meus futuros colegas de aventura que já vinham também no comboio era um senhor que devia andar perto dos trinta anos, um casal que também se aproximava dos trinta com dois filhos o mais velho com três a quatro anos o mais novo com menos de um ano ainda não caminhava.
Entramos no carro eu sentei-me no banco ao lado do condutor no meio dos meus pés sentou-se o filho mais velho do casal os outros sentaram-se atrás, começamos a nossa viagem eu pensei direcção a França, mas, enganei-me, segui-mos direcção Pamplona em Espanha, andamos mais de uma hora, chegamos a uma grande quinta mandaram nos descer e entrar num quarto onde já havia mais quatro homens, éramos no total dez, disseram-nos ainda para estarmos prontos porque passava-mos para França à noite, passamos o resto da tarde quando chegou a noite avisaram-nos que tínhamos que dormir lá a noite, porque a polícia andava a controlar muito, não se podia passar preparamo-nos para passar a noite, dez num quarto onde só havia uma cama de casal, que deixamos para o casal com os filhos, acomodamo-nos no chão como podemos, uns para um lado e outros para o outro.
Sábado dia 19 Março pela manhã, acordamos para aqueles que conseguiram dormir vieram nos dizer para não fazer-mos barulho porque como era dia de S. José, tinham convidados esses convidados não sabiam que nós estava-mos lá, como o dia de trás à noite não houve comer para ninguém, disse-mos que se tivéssemos fome, podiam fazer comer para o meio-dia, mas que tínhamos que pagar, creio que não havia escolha, por isso, aceitamos sem reclamar, sabíamos que tínhamos que passar o resto do dia no quarto porque pelas informações que nos deram íamos passar esse dia à noite
.Ao meio dia, ainda me lembro comemos arroz com frango, o resto da tarde lá se foi passando, creio que não devemos ter trocado muitas palavras, cada um nos seus pensamentos, mesmo as crianças compreendiam a situação e não diziam nada.
Começou a escurecer, chegaram mais dois que deviam passar a fronteira connosco, um pouco mais tarde pediram para nos preparar-mos, éramos dez adultos e duas crianças chegou o momento saímos para fora, estavam dois carros à nossa espera, entramos seis para cada um mais o condutor , parecia um pouco sardinha em lata.
Começamos a andar a estrada, não era má, depois de termos feito talvez vinte kilómetros, um carro que vinha de frente fez sinal de luzes, os condutores dos carros onde íamos, deram logo meia volta voltamos para trás fiquemos, perguntamos o que é que se passava, a resposta foi que estava a policia a fazer um controle mais à frente e que tínhamos que passar por outro lado.
Agora a estrada era com muito mais curvas, mas, fomos andando, uma hora depois os carros apagaram as luzes saíram da estrada por um atalho, pararam, mandaram-nos descer ai estava um senhor de uma certa idade à nossa espera, disse-nos para nos sentarmos e esperar os carros, foram embora, ficamos entregues aos nossos pensamentos, passados alguns minutos o senhor disse-nos que a partir de agora íamos continuar a pé.
Como já disse antes, eu não tinha conseguido despachar a mala nem o saco grande, agora para mim, continuar ia ser complicado, mas, em todo o mundo à gente boa, porque um leva-me o saco grande, outro o saco da merenda e eu a mala as costas.
Começamos a caminhada, não se via grande coisa, não havia luar, o nosso guia não escolheu caminho nem atalho, caminhava-mos por uns lenteiros, um pouco a descer de vez em quando tínhamos que saltar umas vedações, com arame farpado, os sacos e mala muitos tombos deram, mas, iam resistindo aos choques.
Depois de uma hora e meia, a duas de caminhada, sempre um pouco a descer o guia mandou-nos sentar e esperar, ele com uma pilha fez uns sinais de luzes, um pouco mais longe fizeram a mesma coisa, então ele disse-nos que ele ficava ali, para continuar-mos que alguém estava a nossa espera um pouco mais à frente, descemos mais um pouco atravessamos uma pequena ponte, à nossa espera estava um guia que falava francês.
Os meus colegas de fortuna, iam-me ajudando a levar os sacos, a mala, levava eu as costas, era o único que não pode despachar a bagagem, depois de atravessar a ponte, começamos a subir por um caminho, mas, para ajudar um pouco começou a chover, não era muito mas o suficiente para se escorregar, porque também não se via onde se metia os pés, ainda me lembro bem, como o casal levava os filhos, o mais velho o pai levava-o as costas, o mais novo ia ao colo da mãe.
Fomos continuando, sempre um pouco a subir por caminhos alguns atalhos, isto durou perto de duas horas, certo momento, o guia mandou-nos parar, apareceram 3 homens um pouco mais à frente estavam 3 carros parados, disseram-nos: os que iam para Paris irem para um carro e os outros para os dois carros, para Paris ia eu o casal com os dois filhos e mais um senhor.
Começamos mais uma etapa, desta vez com mais conforto não era preciso caminhar nem levar a mala as costas, entregue aos meus pensamentos, dei conta de uma coisa bastante grave, faltava-me o meu saco da merenda, o que me inquietava, não era o comer, porque já não havia nada, mas levava dentro a carteira com o meu passaporte, bilhete de identidade, carta de condução isto falando das coisas mais importantes, o que tinha comigo nos bolsos, era o dinheiro e o bilhete de comboio, com o meu fraco francês, disse ao condutor que tinha que voltar para trás, para ir buscar o saco ele disse-me que não havia problema, que nos voltava-mos a ver, fiquei tranquilo, continuamos a viagem que estava terminar, porque o condutor desligou as luzes do carro e seguiu por um caminho de terra batida, mas, durou pouco, porque parou na frente de um palhal.
Estávamos na frente do nosso hotel cinco estrelas, tirei a mala mais o grande saco, entramos todos nesse palhal com os vidros das janelas partidos, o condutor mostrou-nos num sala dois colchões no chão, com dois cobertores disse-nos: - vamos ali passar a noite, com o que já tínhamos visto nada nos surpreendia, como eu era o único que dizia algumas em francês, disse-lhe que já não tínhamos comido à noite, se o outro dia de manhã não nos trouxessem qualquer coisa para comer, nós saiamos à procura da policia contar o que estávamos a passar, cansados de tantas voltas ele disse-nos que podíamos dormir tranquilos, mas não podíamos sair para fora.
Não me lembro que horas eram, mas, penso que a meia-noite, já tinha passado à muito tempo, deitámo- nos todos vestidos, eu com o senhor num colchão, o casal com os filhos noutro, tentamos dormir mas, não era fácil, primeiro porque pensava-mos a tudo o que se tinha passado estes últimos dois dias e o que nos esperava ainda a noite, passou-se como se pôde nunca tinha passado tanto frio.
Eu devia ter chegado a Paris, a casa do meu tio, normalmente na sexta feira à tarde, estávamos a chegar a domingo eles não tinham nenhumas noticias minhas, nesse tempo não existia ainda o telemóvel.
Pela manhã, trouxeram-nos o pequeno-almoço, com o almoço, tudo junto, disseram-nos ainda para nos mudar-mos de roupa, para quem tivesse, os outros para a lavarem um pouco porque estava toda cheia de lama, para estarmos prontos as cinco horas da tarde, que nos vinham buscar, passamos o dia sem sairmos fora, pelas janelas não se via nenhuma casa era tudo campos à volta e muitas vacas.
Como previsto as cinco horas, chegou um carro mandou-nos subir, seguimos durante talvez meia hora, depois entramos dentro de um grande barracão, saímos do carro, estava outro à nossa espera, mas este não tinha os bancos de trás, perguntaram quem falava francês, eu era o único, mandaram me sentar no banco da frente, com o filho mais velho do casal, entre as pernas os outros sentaram-se atrás, como não tinha banco não se viam de fora, instalados prontos para seguir, fomos não sei o tempo que andamos, talvez uma hora, a certa altura o condutor parou num parque, eu perguntei porque ele disse que nos ia levar a uma estação de comboio, mas ainda era cedo para apanhar o comboio, tínhamos que esperar um pouco a hora, chegou continuamos entramos numa pequena vila passamos na frente de uma estação, mas o condutor foi parar uns trezentos metros mais à frente, disse-nos que a estação era aquela que vimos mais atrás, que íamos a pé até lá, devíamos perguntar pelo comboio que ia para Bordeaux e que a partir de agora estávamos sozinhos.
Até agora, durante esta aventura, alguém pensou sempre por nós a partir de agora devia-mos fazer atenção, porque tínhamos passado a fronteira de assalto, não convinha dar muito nas vistas e que a policia desconfia-se de nós.
O meu saco da merenda, com os papéis não o vi mais, porque as pessoas que o levaram não as voltei a ver, nos meus bolsos, só tinha o bilhete e o dinheiro, não tinha nenhum papel de identidade, isto, era grave num país estrangeiro
Bom, continuamos, o carro foi embora nos ficamos ali à beira da estrada, disse aos meus acompanhantes: - não íamos juntos para a estação, o casal ia com os filhos e eu com o outro senhor, disse ainda ao casal: - para ficar à beira da linha, que eu ia perguntar qual era o comboio para Bordeaux e quando ele chega-se, eu fazia-lhe sinal para eles subirem.
O comboio chegou, subimos todos e mais uma etapa que começava, já era de noite, depois de andar um bocado, passei junto do casal para ver se estava tudo bem, disseram que sim, disse-lhe para descerem em Bordeaux, pois aí, tínhamos que mudar de comboio, o revisor passou pediu-nos os bilhetes, depois perguntou-nos: - porque é que passamos em Espanha na sexta-feira ? (o revisor tinha metido a data nos bilhetes) já era domingo e ainda estava-mos perto da fronteira, eu disse que passa-mos o fim-de-semana com família que tínhamos ali perto, ainda hoje, não sei se ele acreditou mas não perguntou mais nada.
Era meia-noite quando chegamos a Bordeaux, encontramos o comboio que ia para Paris, subimos e iniciamos à última etapa.
Um pouco mais calmos, todos juntos as línguas desataram-se um pouco, disse que ia para a Suíça mas passava por Paris, para passar uma semana com a família, o outro senhor também ia para a Suíça, mas passava por Paris, com o casal porque tinha-lhe emprestado o dinheiro, para eles darem as pessoas que nos passaram na fronteira, o casal vinha para assistir a um casamento, só que já tinha passado, foi no sábado e era noite domingo para segunda-feira.
A noite no comboio passou-se bem, cada um dormiu como pôde, chegamos a Paris pelas nove da manhã de segunda-feira, estação de Austerlitz, perguntei ao casal, se alguém vinha ali busca-los, disseram que não, pois deviam ter chegado sexta-feira à noite, a família não sabia onde é que eles andavam, pedi-lhes o número de telefone para eu lhes telefonar, meti umas moedas na cabine telefónica, marquei o número, perguntei em português, se estavam à espera de um casal com dois filhos, na resposta foi afirmativa, estavam muito preocupados porque já deviam ter chegado na sexta à noite, não tinham notícias deles, respondi-lhes que estavam ali na estação comigo, pedi-lhes para virem busca-los.
Despedi-me destes colegas de uma aventura, que durou três dias e quatro noites, já que ainda tinha que fazer mais hora e meia de comboio para ver a minha família, avisar os meus pais que deviam estar bastante inquietos nas Duas Igrejas e tomar um bom banho porque já estava a fazer falta.
A viagem de comboio, normalmente sai-se de Mangualde, quinta-feira à noite e chega-se a Paris sexta-feira à noite, mas, esta vez saí quinta à noite e cheguei segunda da parte da manhã.
No comboio, passei vários dias com estas pessoas, sem saber seu nome, nem qual região de Portugal, também o risco que corremos se a policia nos apanha-se, que se passaria, ou então que estes passadores nos abandonassem, só quem foi ou é emigrante, pode imaginar estas coisas, as dificuldades que se passam por este mundo adiante.
Os meus papéis de identidade, apareceram um mês mais tarde, telefonaram de Lisboa ao meu pai disseram que vinham a Viseu e que traziam os meus papéis, nunca soube quem foi.
Hoje vinte sete anos depois, um pouco mais maduro, penso que esta aventura, só se pode fazer uma vez na vida, porque o risco é enorme, sobretudo soube mais tarde, que nessa altura a polícia da fronteira tinha matado um português, que tentava passar a fronteira de assalto.
Qual não foi a preocupação dos meus pais, no domingo ao verem o casal que tinha saído comigo, (que ainda são da nossa família) na missa em Lamas, perguntaram, o que é que se passou eles:- responderam que não nos deixaram passar na fronteira e voltaram para trás, eu tinha ficado lá, para passar de assalto, penso que a minha mãe, deve ter corrido para casa a telefonar ao meu tio, saber seu tinha chegado, ele respondeu-lhe que não que também não sabia o que se passava.
Hoje tenho dois filhos, fico inquieto quando chegam um pouco mais tarde, qual não foi a preocupação dos meus pais, não saberem onde andava o filho mais velho à três dias.
Armandino Lemos
2 comentários:
Grande aventura Armandino, e de risco!...
Não sei porquê a primeira vez só li metade do texto.Tinhas tudo escrito no dário? lembras-te de tudo ao pormenor. Normalmente estas coisas não se esquecem. A vida não é fácil...
Cumprimentos, Noémia
ola primo! e um prazer ler o teu texto.muitas saudades e recordacoes desse tempo,um grande beijo pra familia da tua prima ana
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