quarta-feira

Carta Aberta ao nosso Município


Esta crónica vai ser curta.
Tão curta como curtas foram as férias da esmagadora maioria dos portugueses.
Dos que delas beneficiaram.
Curtas em calendário, curtas em dinheiro disponível, curtas nos apoios a boas causas.
Tenho-me batido por o que considero boas causas.
De entre elas, sublinho o convite que endereço a todos os que nos visitam, especialmente aos amigos, para que conheçam pormenorizadamente o que de mais interessante a nossa terra tem para lhes mostrar.
E, voluntariamente, assumo o papel de “guia”.
Damos uma volta.
Vemos e ouvimos.
Não há como ignorar.
Não podemos ignorar umas “coisitas” que, é incontornável, nos ficam “atravessadas na garganta”.
Senhor presidente da C.M. Sátão, Dr. Alexandre Vaz.
Permita-me que teça alguns comentários sobre o que tive oportunidade de ver no meu querido concelho.
Mais rigorosamente na nossa vila e na própria sede do município.
Olhando para as obras concluídas e para as que estão em curso, fico com a sensação de que algo não vai bem na área paisagística. Atrevo-me, mesmo, a questionar a competência dos arquitectos especializados que estão ao serviço da autarquia que é por si dirigida.
Vejamos, tomando como exemplo comparativo a nossa sede de distrito.
Enquanto a lindíssima cidade de Viseu está dotada de uma paisagem globalmente harmoniosa, onde tudo parece ter sido objecto de um plano pormenorizado, minucioso e executado com régua e esquadro, tornando-se deslumbrante para quem a vê, e, assim, contribuindo decisivamente para o título conquistado pelo segundo ano consecutivo de “Melhor Cidade Portuguesa Para Viver”, onde a saúde, a educação, a mobilidade e o meio ambiente proporcionam uma vivência de excelência, a nossa Vila de Sátão, sede de concelho, é, nessa matéria, uma enorme desilusão.
Quer do ponto de vista urbanístico, quer do ponto de vista paisagístico.
Com alguma pompa e não menos circunstância foi destacado o trabalho de requalificação levado a cabo na principal artéria da vila, a rua Dr. Hilário Almeida Pereira. Uma obra que terá orçado em quase meio milhão de euros. Porém, e pelo que me foi dado observar in loco, como diz o povo “a montanha pariu um rato”.
Para além de parecer que a área paisagística circundante não terá merecido a devida melhor atenção, quer ao nível estrutural quer, permita-me que o diga frontalmente, ao nível do bom gosto estético, a rotunda ali implementada e que dá acesso a Rio de Moinhos, igualmente me parece inadequada pelo seu diâmetro excessivo, que obrigará um qualquer veículo pesado, de dimensão significativa, a ter de subir o passeio destinado aos peões para a contornar.
Outro aspecto que terá sido menos bem ponderado tem a ver com os arranjos laterais e os do no centro da vila. Bem sei que o dinheiro não abunda, os orçamentos são apertados, mas dentro dos condicionalismos acredito que existiriam alternativas esteticamente mais interessantes do que a opção pelos paralelos.  
Olhando para a nossa vizinha Vila Nova de Paiva constata-se uma outra paisagem, mais
acolhedora e mais convidativa, se calhar até com a utilização de menos recursos. O que me leva a concluir que se tratará de uma questão apenas e só, repito, de sentido estético.
Deixo uma pergunta: por que não ter-se recorrido à ajuda do Dr. Fernando Ruas, presidente da Câmara Municipal de Viseu, que, está provado, dispõe de um gabinete urbanístico de reconhecida qualidade e que, acredito, teria, com gosto, respondido positivamente ao nosso pedido, disponibilizando os meios humanos e materiais necessários?
No que concerne a largo da Feira de São Bernardo, penso que poderia ter sido objecto de um tratamento mais evoluído, mais verde, mais ecológico, enquadrando-o harmoniosamente com a linda Igreja ali existente. Pô-lo a funcionar como lugar de estacionamento não foi, de todo, a melhor opção. O mundo não é feito apenas de pedras e de paralelos.
A Casa Museu Camila Loureiro, que ocupa o espaço da antiga Cadeia de Sátão, mais parece um barracão, sem estética paisagística e pouco apelativa para uma visita. Acresce que passa completamente despercebida a quem por ali passa, o que é pena, já que no seu interior, creio, existem obras de arte reconhecido interesse e merecedoras de um olhar do público.
Já agora, que se vai melhorar a estrada que liga Carvalhal a Lamas, espero que a infra-estrutura seja mais larga, permitindo que dois carros possam cruzar-se sem que um deles tenha de parar para dar passagem ao que circula em sentido contrário, como, infelizmente, actualmente acontece com a estrada que faz a ligação entre Duas Igrejas e Lamas.
A água é um bem essencial à vida, mas são as infra-estruturas que a trazem até nós. Falando daquilo que observei, mais precisamente na nascente de Duas Igrejas, que foi alvo de obras de melhoramento há pouco tempo, quase nada tem sido feito no sentido da sua defesa e, consequentemente, da defesa da saúde pública. A água que bebemos continua com graves deficiências no seu transporte até às nossas torneiras e o acesso fácil à nascente, por parte de qualquer indivíduo mal intencionado é um potencial risco para todos. Prevenir é bem melhor que remediar. Já que, depois de um qualquer lamentável incidente acontecer, nada pode ser remediado.
Mais algumas deficiências podem ser apontadas com vista ao seu melhoramento e consequente melhoria da vida das populações residentes no nosso concelho, mas, como Roma e Pavia não se fizeram num dia, vou esperar que, passo a passo, tenhamos oportunidade de assistir à subida gradual do bem estar no nosso concelho, reparando-se o que é possível ser reparado.

Caro Sr. Presidente.
Creia que esta “Carta Aberta” é feita com base no meu grande amor à nossa terra. Não se trata, como facilmente constata, de qualquer gratuita afronta. O sentido é construtivo. E faço-o, ainda, no exercício de um direito de cidadania.

Vasco Rodrigues
In  Gazeta de Sátão  Agosto 2012

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