sexta-feira

Um sonho por terra

Todos temos um sonho. E segredos. E pecados. Quem não sonha está morto;  quem não peca é santo. Sonhos, segredos e pecados não são crime. E, mais importante, na maturidade e no bom-senso necessários para suportar cada um deles. Como em tudo na vida, de vez  em quando é preciso saber até onde podemos chegar.
Renato sonhava ser manequim, provavelmente internacional. Ambição legítima. Candidatou-se a um concurso televisivo, que a televisão parece ser o único veículo reconhecido como eficaz pela geração à qual pertence.  A família há-de ter ficado feliz. Os amigos também. Ninguém questionou. Neste tempo, nada parece satisfazer mais as pessoas do que exibir o seu talento, seja ele qual for e a televisão dá para tudo: para cantar, dançar, representar vale tudo. 
Mas nem a televisão, parece ter conseguido responder à urgência do sonho de Renato. E, por isso, talvez ele tivesse também um segredo. Teria aproximar-se de Carlos Castro, 65 anos, velho colunista que seria a rampa de lançamento, se com isso conseguisse acelerar a projecção da sua carreira? Aparentemente, não teria mal nenhum.  Maturidade e bom senso. E verdade, já agora, que é coisa que também começa a escassear. Ou alguém por ele. Se tivesse havido uma mãe ou um pai que tivesse pensado duas vezes antes de autorizar o filho a viajar (para Madrid, Londres e Nova Iorque) com aquele homem, por muito conhecido que fosse. Com aquele ou com qualquer outro.
E foi seguramente um Renato cego, independentemente de ser homo ou heterossexual, que matou outro homem, também ele cego, Carlos Castro. O primeiro, cego pela ambição; o segundo, cego pela devoção de um rapaz mais novo. 

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