Família é um «prato» difícil de confeccionar. São muitos os ingredientes a juntar no mesmo tacho. Misturá-los é um verdadeiro puzzle, principalmente no Natal.
Pouco importa a qualidade ou a dimensão do tacho. Juntar uma família exige coragem, muita perícia e imensa paciência. Às vezes, dá vontade de desistir. Mas a vida, (azeitona verde no palito) sempre nos dá algum ânimo e entusiasma-nos a abrir o apetite.
O tempo, sempre foi um bom conselheiro, ajuda na determinação da paciência para convencer este ou aquele membro da família a encher a mesa e determinar o número de cadeiras e os respectivos lugares. Súbito, feito o «milagre», a família está reunida.
O avô, sentado no topo da mesa, de respeitável barriga, envolto nos netos, já com uns anitos passados e de voz trémula, vai pensando em como será cada vez mais difícil juntar a família para o ano que vem. A angústia que reúne essas tantas afinidades e antipatias que fazem parte da sua vida. Não se envergonha de chorar.
A família é um «prato» que emociona. E faz chorar. De alegria. De raiva. Mas também de tristeza. E lá vai lembrando, os temas cuidadosos que podem alterar o «sabor» do parentesco. É uma ceia diferente, uma noite mágica, mas, se misturadas com alguma delicadeza, que nos parecem estranha ao paladar, torna a família muito mais colorida, interessante e saborosa.
O bom, é ter atenção, uma pitada a mais disto ou daquilo e, pronto, é um verdadeiro desastre. Família é prato extremamente sensível. Tudo tem de ser muito bem pesado, muito bem medido. Outra coisa: é preciso ter boa sensibilidade, principalmente na hora que se decide meter a colher. Entrar na conversa, ou meter a colherada é uma verdadeira obra de arte. Família é afinidade, e cada Pai gosta de preparar a ceia de Natal familiar a seu gosto.
Seja como for, família é o ponto alto do espírito natalício, que deve ser sempre algo bem quente no nosso coração. Quentíssimo. Uma família fria é insuportável, impossível de ingerir e de digerir.
Vamos aprendendo aos poucos, improvisando e transmitindo aos nossos filhos e netos o que aprendemos no dia-a-dia. Muita coisa se perde na lembrança. Principalmente na cabeça de um velho já meio caduco. O que este veterano avôzinho pode dizer é que, por mais sem gentilezas, ou por pior que seja o paladar, a família é o toque mágico que se aproveita ao máximo.
A família é um prato que, quando se acaba, nunca mais se repete.
«Se tivéssemos consciência do quanto nossa vida é curta e passageira, talvez pensássemos duas vezes antes de atirar fora as oportunidades que temos de sermos uma família feliz».
Um Santo e Feliz Natal para todos!
Vasco Rodrigues
in Gazeta Sátão
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