Na aldeia havia sempre algumas personagens que se destacavam, umas pela negativa, outras pela positiva, mas sempre nos lembramos daquelas que nos marcaram, ou que nos fizeram passar bons ou maus momentos.
Lembro com alguma ternura, velhinhas que urinavam em pé, empinando a saia um pouco para cima e lá vai disto, um rio de urina aos nossos pés, durante uma conversa amena que íamos mantendo, faziam isso com uma descontracção impressionante, por vezes quem ficava envergonhado éramos nós, os mais novos.
Toda a gente gostava do Miguel Perneta, os mais novos gozavam bastante, derivado às dificuldades de ele se movimentar, sempre com a sua sachola servindo de bengala ia se arrastando como podia, bebia muito, ia para casa a cantar com a bebedeira quase todos os dias, vivia na miséria.
Lembro da sua morte, enforcou-se na sua casa, provavelmente da vergonha porque iria passar, uns dias antes tinha sido visto por alguém a entrar na nossa tasca, e roubou algum dinheiro para a sua sobrevivência, daí salvar a sua honra na morte, outra estupidez.
O Saul colhereiro, um rapaz dos mais apreciados pela negativa, mas com um bom coração, um louco pela velocidade na sua motoreta, como ficou sem aquela perna, no trambolhão com sua motoreta, na curva do Ameal.
Eu estava lá ao lado da casa, quando seu Pai ( o Manuel colhereiro, então à pouco tempo vindo do Brasil), à traição enquanto ele dormia, apunhalou-o com umas facadas no peito, que horror de noite na aldeia!
A sua morte foi estúpida, tomou aquela calda que se fazia para matar o escaravelho da batata, ainda hoje não se sabe o porquê !!!!!!.
A Família Cegões, do Luíz e Mário, que trabalhadores; das noites em que eles iam guardar a água para os lameirinhos, sempre cheios de medo do escuro, nós os mais novos, gostávamos de os arreliar e de os ver zangados, eles, tinham uma pronúncia, (dialecto) muito engraçado, pouca gente os entendia, eram muito ternurentos, dessa família o Luis o único que ainda vive e com saúde, encontra-se internado num lar no Avelal.
Sinto saudades desse tempo….
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