sexta-feira
As casas da minha aldeia
Lembro da casa da minha avó Alzira, Avó Materna, e da maior parte das casas das aldeias, eram muito idênticas, pobres, mas ricas em felicidade, casas humildes.
Na cozinha, não havia qualquer chaminé, o lume ocupava quase todo o chão e havia panelas pretas com pernas, a fumegar. O fumo saía por um buraco no telhado feito nas telhas e não havia tecto, só as telhas! Não havia luz eléctrica, enquanto uma candeia de azeite alumiava a entrada, o resto da casa era iluminado pelas chamas da cozinha.
Nos quartos só cabia uma cama e uma mesa-de-cabeceira. Não tinham janelas. A casa de banho, era divisão que não existia. Um lavatório de pés de ferro tratava da nossa higiene diária. Uma das coisas mais engraçadas que recordo, … Como não havia casa de banho (sanita), as nossas necessidades fisiológicas eram feitas no campo, atrás de uma árvore, de um muro, enfim em qualquer lado onde ninguém espreitasse. O papel higiénico era uma pedra, uma folha de couve, uma parra de videira, um feto, tudo servia para limpar o rabo, mas… coisa que muita boa gente nem se preocupava com isso, ficava assim mesmo. Porca miséria. Tomar banho a sério, só no Verão na levada do lameirão, aí todos os domingos nos refrescávamos, íamos nadar a tarde toda. Diverti-me imenso junto com os outros miúdos lá da aldeia. O forno da aldeia estava aceso e nem nos apetecia aproximar porque o calor era sufocante. Havia, no entanto, no ar um cheirinho que se ia acentuando. Pouco depois do cheiro da lenha, começava a cheirar a pão quente e a nossa distância do forno ia-se encurtando, ia ficando te tal forma reduzida que já se via a comprida bancada coberta de panos brancos e os pães acabadinhos de sair do forno. Aquele pão amarelo de milho cozido no forno da aldeia em cima da mesa, que delicia, aquela côdea…
Não posso precisar em que altura do ano, (dia dos compadres ou comadres), cozia-se uma bola de carne, que saudade dela!No Inverno, o frio era terrível, era muito gelado. De manhã quando acordávamos,por vezes estava tudo branquinho, ou era neve ou geada. Quando geava, queimava todas as colheitas. No tanque da fonte, onde as mulheres iam lavar a roupa, existia uma camada de gelo com mais de dois centímetros e nós, os miúdos, andávamos por cima da água a escorregar (fazíamos patinagem artística). O nosso nariz congelava com frio, só apetecia encaixar uma unha de porco que tirávamos na matança. Em casa, o único aquecimento era a lareira. À noite, a minha avó metia no fundo da cama, no meio dos lençóis, uma botija em cerâmica cheia de água a ferver enrolada em panos para nos aquecer os pés, durante a noite. Mais tarde, essa botija foi substituída pelo saco de borracha, que ainda hoje se utiliza nas classes mais pobres (este saco é mais seguro que a botija, não se abre com tanta facilidade). A classe dos remediados, já utiliza o aquecedor a gás, com o qual aquece a casa. As pessoas com mais recursos financeiros, mandam instalar o aquecimento central pela casa toda, quer através de caldeira eléctrica, ou através da lareira com recuperador de calor, mas ainda há quem opte pelo ar condicionado “inverter system” com bombas de calor que tanto dá para o Verão como para o Inverno.
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