O Senhor das Rotundas, Regresso do Rei
Na semana passada, após ler uma entrevista de um autarca da nossa praça, ao diário As Beiras,
empreendi algum tempo com ousadia e realizei uma breve reflexão sobre
um tema complexo, o Poder! Político, local, central, autárquico,
governamental, económico, financeiro, militar, bélico, etc…chega-nos
diariamente a casa, através dos meios de comunicação social, nas suas
mais variadas formas. Hoje irei centrar-me no político, ou pelo menos
tentar, dado que eles se misturam, interligam e chegam a ser quase
indissociáveis.
Podemos
afirmar que ele se expressa nas diversas relações sociais, as quais
também podemos apelidar de relações de poder. Consideremos também que
onde existem relações de poder, existe política. Por outro lado, a
política expressa-se nas mais diversas formas de poder, normalmente
associada ao Estado, ela poder ser entendida num sentido mais amplo, não
menos importante, noutras dimensões da vida social. Conceber
actualmente que o poder reside no Estado, é um grande erro, pois existem
relações de poder e estas estão presentes muito além do aparelho
estatal. A promiscuidade crescente entre o poder político e o poder
económico e financeiro, tem levado a que o primeiro permaneça
constantemente refém do segundo. A permanência dos mesmos protagonistas
por anos consecutivos, leva a que estas relações se intensifiquem e
aprofundem, com os resultados que todos conhecemos, que raramente são em
benefício da população, do todo, mas sim do singular. Não foi ao acaso
que Ronald Reagan afirmou que inicialmente julgava que a política era a
segunda profissão mais antiga do mundo, mas que aos poucos ele percebia
que ela se parecia mais com a primeira. A estes factos não ficou
indiferente o legislador, que pensou a lei de limitação de mandatos para
tentar impedir estas ligações perigosas e continuadas entre o poder
político e alguns poderes económicos estabelecidos na região. Quantos de
nós não conheceram de perto, através de pessoas próximas, de
“concursos-fantoche” para admissão de pessoal? De relações menos
transparentes com empresas? De favores e benefícios à margem da lei?
Quantos foram provados e tiveram consequências efectivas para os
autores? Vive-se num clima de total impunidade, em que perante a
inexistência de Justiça, se procura agir legislando preventivamente.
Dadas as limitações da acção preventiva para a plena eficiência
pretendida, podemos considerar que é um bom principio que deverá ser
complementado urgentemente.
A
permanência em cargos de poder, por demasiados anos, leva a uma leve, ou
profunda, “demência” em que, inconscientemente ou conscientemente
(dependendo dos actores), julgamos a “coisa pública” que gerimos como
sendo já propriedade nossa. Poderia enumerar aqui alguns casos,
incluindo alguns locais, cuja conduta deixou transparecer este mesmo
sentimento de posse e autoritarismo exacerbado. Sabiamente, Lincoln
dizia que a melhor forma de testar o carácter de um homem, seria dar-lhe
poder, essa coisa que vicia e nos molda o pensamento, e desenganem-se
os incautos, porque isto de mandar não é uma coisa fácil. Isto de
liderar não é para todos e exige uma estrutura mental e de princípios
que poucos alcançam. Talvez por isso, sejamos diariamente confrontados
com declarações e atitudes, ao nível das ditaduras africanas ou da
América Latina. Quando se afirma publicamente que existem cidadãos
dispensáveis ou que se vai deixar a indicação de 2 ou 3 nomes para a
sucessão, ultrapassa-se tudo o que é aceitável numa sociedade em
vivência democrática e leva-nos a recuar a tempos passados que não
queremos relembrar. O considerar a lei um “castigo” e fazer depender o
regresso em 2017 unicamente da própria vontade, dando a eleição como
garantida, mergulha num egocentrismo e narcisismo a roçar o caso
clínico.
Chegou,
definitivamente, o tempo da mudança. Honrar a obra feita por quem sai, e
quem entra, atentar aos erros cometidos e ao que ficou por fazer.
Acabe-se de uma vez com este pensamento “esquizóide” e narcisista dos
políticos da nossa praça, que se consideram insubstituíveis e senhores
absolutos da competência e da razão. São eles ou a catástrofe! Falam
quase diariamente em empreendedorismo e das novas gerações com a melhor
preparação de sempre, as mesmas a quem não dão oportunidade de mostrar o
seu valor e de também fazer obra. Quantos dos nossos decisores
políticos que dão palestras sobre o tema, já foram empreendedores? Que
obra já criaram fora da política, em igualdade de oportunidade com
qualquer outro cidadão? Se são assim tão valorosos e imprescindíveis,
têm agora a oportunidade de o provar, através dos apoios e programas que
propagam constantemente aos cidadãos. Aventurem-se no sector privado
sem apadrinhamentos políticos, ou até quem sabe, emigrem!!
Permitam-me
terminar com uma utopia, porque o sonho e a fantasia fazem parte do
homem. Recue-se aos princípios da República e entenda-se o exercício de
cargos de poder como um contributo cívico temporário, um acto fraterno e
solidário para com a sociedade!
Acácio Pinto
in: Notícias de Viseu
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