O País, de lés-a-lés, vê chegar os seus emigrantes.
É o regresso à terra natal de todos aqueles que as
dificuldades internas “empurraram” para lá das fronteiras (ou da “zona de
conforto”, como, num momento infeliz, disse o actual governo).
Entre as décadas de 60 e 90 a emigração foi sinónimo de
sacrifício. A Europa foi o destino privilegiado. França, Luxemburgo, Suíça e
Alemanha foram os países “da esperança”. A fronteira entre Portugal e a Espanha
era atravessada “a salto”, à revelia das autoridades.
Do lado de cá, fugia-se à Guarda Fiscal, à GNR e, não
raras vezes, à PIDE. Do lado de lá, havia que evitar os “carabineros”, como era
designada a Guarda Fiscal espanhola antes de ser integrada na Guarda Civil.
A América “das oportunidades”, do sonho do “el dourado”,
também foi a escolha de muitos portugueses. Que lograram alcançar,
clandestinamente, em viagens com riscos nem sempre apropriadamente calculados,
a maioria delas feitas nos porões de barcos sem quaisquer condições e que
punham em risco a sobrevivência dos “passageiros”.
O Canadá foi outro dos horizontes que se abriu à frente
dos que ousaram tentar a sorte “noutras paragens, noutras aragens”. Para este
país da América do Norte, os navios bacalhoeiros que rumavam aos mares da Terra
Nova e Gronelândia, eram o transporte escolhido. No final, a deserção. Na
bagagem, apenas o contacto de alguém, pago a peso de ouro, que os havia de
orientar naquelas longínquas paragens. Concretizava-se, assim, o sonho de
conquistar uma vida melhor.
Outra forma de emigração, inquestionavelmente mais
confortável e segura, era feita com base na designada “carta de chamada”.
Especialmente para os EUA e Canadá. Já para a Europa, o “contrato” era uma
espécie de “salvo-conduto” que garantia segurança. A viagem, na maioria dos
casos, era feita de avião e a recepção à chegada ao destino era feita por
familiares e amigos.
Nestes casos, a emigração quase se resumia a uma natural
mudança de hábitos, da língua à cultura, inerente a quem muda de país. Uma
transição que era feita com relativa tranquilidade. Não diremos que era de todo
fácil, mas era incomparável àquela que inicialmente referimos e que
proporcionava, em muitos casos, apenas um solitário banco de jardim aos que
chegavam às “terras prometidas. Esperança, era o único “capital” de que
dispunham estes emigrantes “do infortúnio”, como muitos lhes chamavam. Uma
realidade que, infelizmente ainda hoje é vivida por muitos portugueses que
seguem a rota da emigração.
A verdade é que, para uns e outros, as dificuldades eram
múltiplas. A todos eram exigidos esforço e sacrifício, tenacidade, crer e
querer inabaláveis, vontade férrea. Horas infinitas de trabalho eram cumpridas,
em actividades que, nalguns casos, desafiavam a dignidade, mas tudo era feito
em nome da melhoria das condições de vida da família, mulheres e filhos, pais e
irmãos, que por cá ficavam à espera dos frutos.
Portugueses de fibra, ancorados no “antes quebrar do que
torcer”, nunca cruzavam os braços, não viravam a cara à luta e, sobretudo, não
desistiam na adversidade. Pelo contrário, esta funcionava quase sempre como
estímulo e incentivo à superação. Dos problemas e de si próprios. E quase
sempre venciam.
Noutro contexto económico e social, em tempos claramente de
crise, a emigração voltou a ser hoje uma “porta de saída” para procurar uma
vida melhor. E esta é a motivação prevalecente. Contudo, o perfil do emigrante
de hoje é, notoriamente, outro. Mais jovem e, objectivamente, mais qualificado.
Outrora, foram gerações dedicadas a actividades de
capital intensivo como a construção civil, transportes ou agro-pecuária a
abandonar o País. Hoje, repetimos, os dados mostram-nos que quem faz as malas é
uma mão-de-obra jovem e altamente especializada, maioritariamente constituída
por licenciados. Uma emigração sem alternativa, bem pior, dizem que uma simples
emigração acelerada.
Hoje em dia há “toneladas” de portugueses a procurar
outras paragens porque pura e simplesmente não têm qualquer perspectiva
profissional em terras lusas. E isso tanto pode ser a busca do emprego que
tarda em aparecer, ou a oportunidade de abraçar o desafio profissional que se
deseja e sempre se procurou.
Por isto é que, a meu ver, o papel do emigrante e o papel
de Portugal no contexto da emigração devem ser revistos como um todo.
Um país que teima em “expulsar”
jovens talentos, que tarda em colocar um ponto final na continuidade “do mais
do mesmo”, que vive mergulhado numa crise desde há muito anunciada, uma crise
que não vem de agora, não vem de Sócrates como também não veio de quem lhe
antecedeu, uma praga às governações sucessivas deste país, que nunca
conseguiram uma boa economia para que as nossas famílias fossem felizes e
juntas.
E continuaremos nesta
desgraça, com a maior parte das famílias deste país a voltarem a emigrar para
terras que lhes dão segurança e um futuro melhor.
É tempo de travar a “fuga” de portugueses para outras
terras à procura de uma vida melhor. Mas que o seu País, madrasta e
desgraçadamente, lhes nega.
Termino como comecei.
Sejam bem-vindos à vossa e nossa terra, emigrantes
portugueses.
Boas férias para todos.
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