É acompanhada com azeite, couves e broa que esta leguminosa atinge o seu pleno sabor. O chícharo, quase desconhecido em Portugal, têm em Alvaiázere, na região centro, uma longa tradição. Um estatuto ao qual a autarquia local não se mostra indiferente. Durante décadas quase esquecido o chícharo é visto, agora, como um «veículo de desenvolvimento do território». É conhecido por «xíxaras» embora, na designação oficial, surja identificado como chícharo, uma leguminosa rica em proteínas, hidratos de carbono e sais minerais, cultivada desde épocas remotas como planta forrageira ou como legume comestível. Elemento característico da região de Alvaiázere, distrito de Leiria, a cultura do chícharo é normalmente feita de forma intercalar entre oliveiras, figueiras e outras árvores de produção, aparecendo também associada ao cultivo do grão-de-bico. Os relatos das gentes da região dão conta de que antes de se consumir o chícharo deve ser demolhado e pode ser utilizado de diferentes formas, em puré, ou como acompanhamento de carnes, enchidos e peixes. Mas, para o sabor ser pleno, em Alvaiázere, diz quem sabe, que tem de ser acompanhado com azeite, couves e broa. Sabores que correram o risco de extinção. «O chícharo, cuja cultura era frequente no concelho de Alvaiázere ficou, durante décadas, quase esquecido, sobretudo porque lhe estava associado um estigma negativo», começa por explicar ao Café Portugal, Paulo Morgado, presidente da Câmara de Alvaiázere. Estigma esse que se deveu sobretudo ao facto de o seu consumo estar fortemente associado a tempos de crise. No entanto, refere que a partir do momento em que se dinamizou o Festival Gastronómico do Chícharo, que se realiza todos os anos no início de Outubro, a comunidade alvaiazerense, «graças a uma campanha de sensibilização promovida pelos mentores e organizadores do evento, passou a reconhecer-lhe o enorme potencial gastronómico, turístico e, consequentemente, económico». Actualmente, a produção desta leguminosa é perspectivada como «veículo de desenvolvimento do território». O edil explica porquê: «para além da venda e comercialização do produto, associado ao festival, tornou-se num produto com crescente procura por parte dos amantes da gastronomia, o que implica maior movimento nas unidades de restauração e hoteleiras, contibuindo para o desenvolvimento económico do concelho». A média anual de produção de chícharo no concelho ronda as três toneladas, sobretudo se o Inverno não for muito rigoroso, até porque a água em abundância estraga as sementeiras. Paulo Morgado realça que ao longo dos últimos anos têm sido criadas e apoiadas redes de comercialização do produto que garantem a sua disponibilização em supermercados e cadeias de hipermercados, bem como em lojas de produtos endógenos (Aldeias do Xisto e Associação de Desenvolvimento das Terras de Sicó) e em alguns postos de Turismo da zona centro do país. Desse modo, o autarca vinca que o município de Alvaiázere pretende que «o estímulo à produção do chícharo não se esgote no conceito do Festival Gastronómico», pelo que tem apostado em estratégias estruturadas de divulgação que passam pela presença em feiras nacionais, tais como a Bolsa de Turismo e a Alimentária Lisboa». «O município promove, de acordo com o seu plano anual de actividades, um conjunto diversificado de iniciativas a que associa, sempre que possível, esta leguminosa por forma a contribuir para a sua contínua promoção. Naturalmente que a realização do Festival Gastronómico implica uma estratégia de divulgação agressiva e intensa que pressupõe uma forte exposição mediática do chícharo», sublinha. Potencial de desenvolvimentoPaulo Morgado salienta que a produção do chícharo estava associada aos calendários agrícolas do povo alvaiazerense, apesar de essa ligação ter refreado ao longo das últimas décadas e até à realização da primeira edição do festival gastronómico. «No entanto, tem vindo a ser desenvolvido um trabalho de sensibilização da população no sentido de que esta leguminosa seja de facto entendida como um potencial meio de desenvolvimento do território, sobretudo se considerarmos a riqueza, qualidade e diversidade de outros produtos endógenos que, associados ao chícharo, se promovem (como sendo o azeite, o vinho, o mel, o queijo, entre outros)», informa. Actualmente assiste-se a um aumento significativo da produção desta leguminosa e a população «recupera gradualmente as histórias de infância e dos seus antepassados que as ligam a este produto tão característico do concelho». «Consideram-no, pois, parte da herança histórico-cultural de um território que transportam em si e que se afirma pela sua singularidade», garante. Recorde-se que o chícharo é uma leguminosa de implantação mundial e apresenta diferentes denominações nos países europeus: em Itália é conhecida como «cicerchia», na França como «gesse», na Alemanha como «platterbsen» e como «vetchlings» na Inglaterra. Contam os livros que, o chícharo é proveniente do Médio Oriente, os gregos chamavam-lhe «lathyrus» e os romanos «circula». A sua produção é favorecida em solos argilo-calcários, sobretudo secos. A sua cultura é feita de forma intercalar, entre oliveiras, figueiras e outras árvores de produção. É semeado a lanço, em linha ou rêgo, depois da terra estar alqueivada ou gradada. Em Portugal o seu cultivo incide especialmente no Alentejo e nas Beiras onde o terreno é eminentemente calcário. Um trabalho da Jornalista e amiga Ana Clara |
segunda-feira
O chicharro
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