sábado
Insónias ao cair da folha
Ups! Regressámos à era dos mares, anos 1500, tempo em que dominávamos o mundo através das aguas cristalinas dos oceanos, onde o gigante Adamastor nos amedrontava, mas, homens sem medo, enfrentaram-no e transpuseram-no, cheios de vã glória. Voltámos ao mar, hoje só mesmo para pescar e eis que, nas primeiras redes lançadas, caíram algumas trutas ao redor do isco. Trutas… e que trutas! Bem grandes, mas, o objectivo, são peixes ainda mais graúdos, talvez até tubarões. Existem muitos ao largo da costa, comem tudo, extinguindo várias espécies que alimentariam muitas famílias, passeando a seu belo prazer e luxo, com a cauda bem empinada chapeando a água de alegria. Só mesmo o Diogo Cão, para transpor esse gigante da justiça. Vendo agora o processo “Face Oculta” cheio de gente sem escrúpulos veio finalmente, dar resposta às longas noites de insónias de que por vezes me atormentavam, insinuando os raios e coriscos sobre a nossa justiça.
Desconfiado, do ambiente de tráfico de influências e trocas de favores por dinheiro, a onda gigante rebentou, bem… O novelo enorme e entrelaçado está a desenrolar-se e a coisa começa a aquecer, os tubarões começam a rondar o isco.
O País voltou a ser abanado por um mais um caso de corrupção. Depois do «caso dos sobreiros - Portucale», «caso BCP», «caso Freeport», «Operação Furacão», «caso BPN», «caso BPP», surgiu, agora, o «caso Face Oculta». Este, como os anteriores, a envolver nomes sonantes da política, do empresariado e da gestão pública. Ou seja, corrupção de alto coturno, ao mais alto nível. Mais um caso criminoso no âmbito de um fenómeno que não é novo e que tem vindo a minar os alicerces, sociais e económicos, quer do País quer da Democracia. Para não falarmos do pilar fundamental de um Estado de Direito: a Justiça.
Corrupção activa e passiva, tráfico de influências, associação criminosa — eis alguns dos indícios criminosos detectados pela investigação da Polícia Judiciária que levaram o JIC do DIAP de Aveiro a constituir arguidos, para já, 15 indivíduos, um dos quais viu ser-lhe aplicada a medida de coação mais gravosa prevista no Código Penal: a prisão preventiva.
O despacho judicial que descreve a rede de corrupção que abrange o negócio sujo da sucata, administradores da alta finança e agentes do governo, responde às minhas longas noites de insónias: Será caça às bruxas? Não acredito, mas, desta vez, haverá ambiente de desconforto no meio político e autárquico, daqueles que poderão esta noite, e nas próximas, dar voltas e voltas na sua luxuosa cama, com mais insónias, que qualquer um de nós cidadãos e cumpridores dos nossos deveres? Como o medo guarda a vinha, o silêncio era o único método de não de perder o chorudo emprego, hoje essa situação mudou de figura, como se sabe «quem cala consente», por isso, mesmo tanto é ladrão quem vai roubar as uvas, como quem fica à porta. Algo está a mudar, o medo da investigação vai desaparecendo, tanto no Ministério Público como na Polícia Judiciária e vai-se revelando um universo de roubalheira demasiado austero, que vinha a ser encoberto sempre pelo segredo de justiça.
É muito importante que saibamos, porque se que dá um Mercedes topo de gama (já não há almoços grátis) a um prevaricador por troca de influências. Falamos de dinheiros públicos, que pagam concursos viciados, subornos e outras coisas mais. Até agora, a justiça, tem funcionadocom muita lentidão e uma panóplia de artimanhas que os advogados pesquisam nas entrelinhas da lei, também a compra do silêncio, que vão dando algum tempo aos criminosos, tempo esse, para que os crimes vão caindo nos esquecimento de todos nós comuns cidadãos.
Com tudo o que vamos vendo e lendo em alguns órgãos da comunicação social, ainda com alguma isenção, (não sei até quando), ficamos de veras atordoados, sobre as redes de corrupção, desta gente sem escrúpulos, que não olha a meios para atingir o seu fim, no nosso cantinho à beira mar plantado.
Parece-me que justiça supostamente, começa a dar passos largos e a pensar fazer justiça, neste grande universo de gente fina. Mas, caso contrário, se esta árvore da justiça não der frutos; caríssimos cidadãos: tragam as motosserras, os machados, traçadores, o que tiverem à mão, ou então roguem à Santa Bárbara que envie uns trovões e relâmpagos e que destrua de vez essa maldita árvore.
Mas, paira no ar quase sempre, um silêncio que nos confunde, pressentindo um ar ameaçador, que nos transmite uma mensagem clara, vinda dos agentes do nosso reino, protegendo-se uns aos outros com silêncios cúmplices. Será uma mensagem traduzida no mais simples e conceito ditado popular Portugalês: nos grandes ninguém toca! Vamos esperar sentados para ver, mas, façam o favor de ser optimistas.
Vasco Rodrigues
Vasco.cinderela@netcabo.pt
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