O tempo voa. E as nossas vidas voam com ele a uma
velocidade tal que, o que actualmente esta a acontecer, …já foi.
Nada
é como antigamente. Namorar era tido como uma coisa séria. Se um rapaz se
interessasse por uma rapariga, ele tentava conquistá-la com doçura no olhar. Se
fosse mais ousado, levantava o chapéu, um sinal de "olá, estou interessado
em ti!". E a rapariga? A rapariga dava um sorrisinho maroto e baixava o
olhar logo em seguida.
Isso estava implícito que ela o aprovara. Nas cidades, os
pais controlavam tudo, os encontros eram em casa, um em cada ponta do sofá,
sobre a vigilância de alguém mais velho, os beijos não eram permitidos, nem
saídas à rua sozinhos… Já na aldeia, o domingo, era o dia de namorar, lá se
combinava, no bailarico de sábado à noite, a hora e o local, bem visível à
vista de quem passava na rua, para que não houvesse dúvidas quanto à boa
intenção, um homem tinha que ser respeitador e educado para ter o aval dos pais
dela, mas até ao primeiro contacto físico havia muito para demonstrar. Assim,
grande parte dos casais optava por casar cedo, de certa maneira, para fugir a
estas regras restritas impostas pelos familiares e principalmente pela
sociedade.
Actualmente,
todos estes valores estão fora de moda. Os mais novos andam numa de “curtir a
vida” e os mais velhos não querem assumir relações sérias. Como tudo mudou, até
as formas de estabelecer o primeiro contacto mudaram, a Internet é um espaço
privilegiado. É incrível a quantidade de pessoas que cada vez mais encontra a
sua cara-metade através de um chat ou de um site apropriado para tal. Hoje, não
há quem não tenha Messenger ou página no hi5, Facebook ou Myspace.
Aqui
as conversas fluem de forma tão descontraída que não há lugar para a timidez.
Lançam-se umas fotos, umas larachas, oferece-se umas breves informações sobre a
pessoa, depressa se vê quem se adequa ao perfil que se pretende. Só que tudo
isto pode funcionar como uma “faca de dois gumes”: perde-se privacidade mas,
por outro lado, fazem-se novas relações. No fundo há que saber contornar este
tipo de situações…
Muitos
há ainda, aqueles que vivem relações à distância, que a conseguem encurtar com
a ajuda da Internet, seja por e-mail ou por telefone. É isso mesmo, é que
também já se pode ouvir e ver a voz da pessoa amada a custo zero, com programas
como o Skype ou Voip. As barreiras nas relações também são cada vez menores,
graças às novas tecnologias. A escalada do jogo amoroso e da sedução é muito
mais rápida on-line do que cara-a-cara e sem preconceitos.
As
novas tecnologias vieram revolucionar, definitivamente, as relações. Sejam elas
de que tipo forem. Aproximaram mais as pessoas, aceite-se, mas, paradoxalmente,
tornaram-nas mais distantes, mais frias, menos humanizadas. Os sentimentos são
“cibernéticos” apenas. Falta o olhar nos olhos, o contacto, o cheiro da pele.
Acresce, ainda, que por detrás de um monitor, qualquer um pode assumir e
interpretar o personagem que mais lhe convier. Basta preencher um perfil,
inócuo e nunca revelador de carácter, com os dados que bem entender. E, em
muitos casos, essa “realidade” transcrita quase nunca tem a ver com a
verdadeira realidade de quem escreveu. Aqui valerá a intuição de cada um para
separar o trigo do joio. O que nem sempre é fácil, convenhamos.
Age-se
com maior facilidade na troca conteúdos emocionais da vida das pessoas, até
porque na maioria da vezes é mais oportuno partilhar as coisas com estranhos,
há uma maior liberdade para expressar os desejos e interesses, é mais fácil
tirar a “máscara”, que por vezes se usa num encontro pessoal. A Internet é uma
forma de as pessoas se conhecerem. Dai até à troca de contactos e à marcação de
um encontro, existe todo um jogo excitante, a espera pela própria mensagem, o
saber se ele/ela está on-line… Tudo isto desperta sensações. Até que se passa
ao nível do contacto pessoal e por vezes as pessoas já se conhecem de tal forma
bem, que não há lugar para constrangimentos e o amor pode mesmo acontecer.
Provavelmente, conhece uma história de amor onde tudo começou desta forma…
E
a sua, não terá começado assim?
Vasco Rodrigues
9/2012 in gazeta de Sátão
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