A ânsia de voltar a minha aldeia é o escape, o ponto de fuga, o berço de fim-de-semana que tantas vezes acontecem, tanto comigo como com inúmeras pessoas que por ali nasceram, aí sim, recordam-se e vivem emoções e se revivem e realizam incontáveis sensações.
Mas a angústia regressou, proveniente dos anos 50 e 60 e as pessoas voltaram a sair do país, a emigrar, em busca de melhores condições de vida. Continuamos sem criar condições para travar a progressiva desertificação. Todos os dias de vários pontos das nossas aldeias, jovens e menos jovens, saem em busca de melhores dias para garantir o seu futuro e dos seus. Os grandes centros urbanos como Lisboa, Porto e outros países, cada vez mais recebem gentes que vindas dos nossos recantos, ali trabalham a troca de algum dinheiro, que hoje diga-se é muito pouco, mas, vão lutando para sobreviver e a culpa é de quem? Como a culpa morreu solteira, vamos empurrando com a barriga para a frente, tentando acreditar em desculpas esfarrapadas daqueles que dirigem os nossos destinos, em quem votamos e confiamos para isso. Esses sim, assistem impávidos e serenos a um cenário lastimável, sem prejuízo deles próprios, olhando para um interior cada vez mais desertificado, com potencialidades subaproveitadas e abandonadas pelo desemprego e muita pobreza.O que vemos hoje, são as nossas aldeias envelhecidas, quase sem crianças, as casas e os caminhos rurais estão completamente irreconhecíveis, de vez em quando a muito custo, lá vem uma máquina da câmara desbravar uma passagem no meio dos pinhais, ou um caminho por onde as pessoas ou animais teriam de passar para fazer a sementeira ou colheitas, é a sina que assistimos, ouvindo as queixas dos mais velhos, que terão de deixar os campos em monte, as matas por limpar, pelos caminhos não se consegue lá chegar. É triste assistirmos a isto, mas é uma realidade, provavelmente alguém ao ler esta crónica dirá que não acredita, pois estamos em pleno século XXI, mas, a realidade é outra, todo o investimento foi desviado para os grandes centros e esqueceram o interior, não dando qual quer margem de manobra aos autarcas para outros investimentos e sem lhes dar a importância necessária, hoje vemos cada vez mais as nossas aldeias a ficar desertas, abandonadas à sua sorte e completamente devoradas pela silvas giestas e outra vegetação selvagem.
Sinto um orgulho enorme como viseense, vejo a minha cidade organizada, bem tratada, evoluindo cada dia que nasce, mas, entristece-me ver todo o meu concelho e a minha freguesia quase parados no tempo, provavelmente eu não faria melhor, pois não estou habilitado para tal, mas, estamos a ser dirigidos por pessoas com larga experiência de muitos anos de autarcas, são eles têm um papel importante em servir de agentes mobilizadores e moralizadores na procura de soluções locais que, reanimem a autarquia e dêem a quem lá vive aquilo que é necessário para que se sintam bem e com vontade de fazer mais e melhor, é um fato que a «crise» é a madrasta e padroeira de toda esta troika, mas, não convence e justifica em tudo, é com emprego que os jovens e os casais se fixam, é com garantia de emprego que os que saíram regressam para a sua terra, sem isso, não é possível mantermos os nossos jovens nas nossas terras, por isso, as pessoas poderão mostrar bastante descontentamento,
Nesta altura difícil, em que assistimos a uma grave crise económica internacional, à qual o nosso país também não escapou, acredito que vamos dar a volta por cima, somos um povo que luta e quando é preciso arregaçar as mangas, damos tudo o que temos e vamos buscar forças onde elas já não existem em prol de uma vida melhor, e da revitalização dos nossos recantos.
Vasco Rodrigues
In gazeta sátão junho2011