Um Natal que, tendo em conta as tremendas dificuldades que marcam a vida da maioria dos portugueses, não será um «Bom e Feliz Natal».
O que desde logo retira muito do sentido à mensagem típica desta quadra do ano.
Que, no entanto, não deixará de ser trocada.
Mais para cumprimento de um ritual.
Mais para cumprimento do «socialmente correcto».
Dirão uns que será o Natal «possível».
Dirão outros que será um Natal «descontente».
Para muitos não haverá comemoração do Natal. Pura e simplesmente.
Mais de 800 mil portugueses sem emprego e sem esperança de o vir a ter, têm motivação para festejar o Natal?
Milhares de trabalhadores que viram ser-lhes cortado pela metade o subsídio, têm motivação para festejar o Natal?
Milhares de idosos, cujas pensões de reforma não chegam para pagar os remédios na farmácia, têm motivação para festejar o Natal?
Milhares de pessoas, que deixaram de ir às consultas médicas por não poderem pagar taxas moderadoras, têm motivação para festejar o Natal?
Milhares de famílias, obrigadas a recorrerem às instituições de apoio social, para poderem dar aos filhos uma prato de comida, têm motivação para festejar o Natal?
Milhares de famílias, que foram obrigadas a entregar as suas casas à banca, por não terem dinheiro para continuarem a pagar a renda, têm motivação para festejar o Natal?
Milhares de empresários, que por dificuldades económicas foram obrigados a fechar os seus negócios, têm motivação para festejar o Natal?
Milhares de jovens e de professores, que são «convidados» pelos próprios governantes a emigrarem, têm motivação para festejar o Natal?
Apesar de todas as vicissitudes não quero deixar de partilhar convosco, caros leitores, uma palavra de esperança.
De uma esperança que possa estar presente em todas as casas na noite mágica da Consoada.
Vivida no aconchego familiar.
Em paz.
Que sejamos capazes de, todos juntos, com o espírito da Boa Nova anunciada há mais de 2000 anos, levar a luz que guie a bom porto os que menos podem e mais sofrem.
Os que mais precisam.
Foi esta, afinal, a mensagem que nos foi deixada quando nasceu o Salvador.
O Natal é feito de pequenos gestos.
Que engrandecem quem os tem.
Como nos mostra este belíssimo «Conto de Natal», do Prof. Vaz Nunes, que aqui vos deixo. Uma história feita de simplicidade e generosidade. Como deve ser o Natal. Para reflexão. De todos nós.
Feliz Natal, Mariana!
«Era Natal, noite branca, céu estrelado, frio típico da época, as pessoas juntavam-se em volta da mesa para celebrar mais um natal.
Mesa farta, bom vinho, sobremesas de dar água na boca, crianças a correrem pela casa brincando ansiosas por ouvirem bater as 12 badaladas e poderem abrir os tão esperados presentes trazidos pelo Pai Natal.
Na casa de uma família abastada, luxuosa, que como todas a outras, comemorava o natal, a campainha toca. Um homem bem apresentado abre a porta e depara-se com um mendigo, cara triste, roupas sujas e esburacadas, humildemente pedindo um prato de comida. É convidado a entrar. O resto da família aproxima-se e observa o pobre de alto a baixo como se fosse uma raridade. Comentários de mau gosto começam a ser feitos por membros desta família, Até as próprias crianças se sentem no direito de humilhar o pobre senhor, com o incentivo dos pais. O pobre olha para a mesa, recheada das coisas mais apetitosas.
Porém, o dono da casa chama um dos empregados e manda-o colocar comida que havia sobrado do dia anterior num saco de plástico, junto com pão velho. Entristecido e humilhado, o mendigo foi-se embora.
Mais à frente, num bairro diferente do qual ele havia pisado antes, o mendigo pára em frente de uma casa muito pobre e resolve bater. Uma senhora de olhar triste e cansado abre a porta. Novamente ele pede por um prato de comida. Humildemente, a senhora de nome Mariana, convida-o a entrar e a sentar-se à mesa.
Enquanto aquecia a sopa para ofertar ao convidado, este depara-se com uma menina deitada na cama, com olhar doente, e pergunta a Mariana sobre esta. Mariana suspira tristemente e responde num soluço que é a sua filha que ali está deitada muito doente e, como eram muito pobres, não tinha dinheiro suficiente para a levar ao médico ou comprar medicamentos.
Ao terminar o seu prato de sopa que era só o que Mariana tinha com um pedaço de pão, mas que fora dado com muita boa vontade, o mendigo aproxima-se da menina e suavemente acaricia-lhe a testa. Seguidamente, dirige-se para a porta, olha para Mariana e, sorrindo, diz-lhe: "Feliz Natal, Mariana."
Passados alguns segundos, a menina levanta-se e com uma cara de quem se sentia muito melhor. Ela olha para a mãe e diz estar com fome.
Passados alguns segundos, a menina levanta-se e com uma cara de quem se sentia muito melhor. Ela olha para a mãe e diz estar com fome.
Lágrimas correram pelo rosto de Mariana, que nunca mais esqueceu o melhor presente que Jesus lhe trouxera em segredo.»
A todos desejo um Santo Natal!
Vasco Rodrigues
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